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Foto do escritorLaboratório Ecologia da Intervenção UFMS

Por que amamentar é ecológico?

Atualizado: 5 de abr. de 2023

“Apoie o aleitamento materno para um planeta mais saudável” é o tema da semana mundial do aleitamento materno deste ano de 2020

Por Letícia Couto Garcia, Professora Adjunta da UFMS, coordenadora do Laboratório Ecologia da Intervenção



Motivo #1: amamentar é biológico, somos mamíferos e temos glândulas mamárias que são especializadas em nutrir os nossos filhotes, sendo a amamentação o diferencial no aumento da imunidade e melhoria na nutrição na primeira infância e o leite materno é considerado o melhor alimento para seu filho, segundo a OMS, desnecessário qualquer outro tipo de alimento antes dos seis meses, sendo recomendado o aleitamento exclusivo até os 6 meses e complementação até os dois anos de idade

Apesar disso, segundo dados da Unicef 40% das crianças tem aleitamento materno exclusivo

E até os dois anos, somente 25% das crianças do país (dados de 2011)

Motivo #2: leite materno é gratuito e garante a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) que seria do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.

Ou seja, amamentar é fornecer um recurso de qualidade, regular e permanente da forma mais sustentável possível e vou demonstrar o porquê

Motivo #3: Leite materno dispensa recursos naturais (seguem alguns dados de Radford 1992):

-Por ex, embalagens: se todos americano recebesse mamadeira, 86 mil toneladas de alumínio seriam necessárias e 550 milhões de latas de alumínio descartadas +1230 toneladas de papel das embalagens, fora todo o plástico das mamadeiras.

- além disso, processos industriais da pasteurização, conversão em pó

-gastos do transporte para o leite chegar na sua casa: o que gera poluição

-fraldas: Bebê que se alimenta de leite materno recebe a quantidade necessária, pois a produção é adequada ao bebê que tem menos resíduos para excretar, portanto, utiliza menos fraldas

-Absorventes: a mãe que amamenta, fica sem menstruar em torno de um ano, reduzindo a necessidade de uso de absorventes. Em 1 ano, uma mulher consome cerca de 360 absorventes

-Vegetação nativa e área: considerando que o Brasil desperdiça 300 milhões de litros de leite humano por ano devido ao desmame precoce (dados da Fiocruz de Almeida 1999) e levando em conta que a produtividade da pecuária leiteira de 1500 l/hectare/ano em um estudo de Oliveira sobre a rentabilidade pecuária (que é de menos de 1 vaca por hectare) (dados de Oliveira et al. 2001) isso daria a ocupação territorial de 200 mil hectares por ano destinados à estas vacas. Área equivalente à soma dos municípios de SP, Belo Horizonte e Niterói juntos. Ressaltando que isso é sem contar com a área devastada para uso do plantio de soja, que é um dos componentes do leite em pó. Calculando esta área e proporcionalmente à quantidade de árvores que ocupariam este território, podemos dimensionar que para ocupação deste território, resultaria na perda de 333.200.000 árvores por ano (pensando em um plantio de 2x3m).

-gastos com água: produção de leite, lavagem da mamadeira. Somente para produzir 1 litro de leite são necessários 1020 litros de água. Multiplicando aos valores de desperdício de leite materno, isso daria 306 bilhões de litros de água por ano. A vazão média das cataratas do Iguaçu é de 1,5 milhão de litros de água por segundo. =204 mil segundos. O equivalente a desperdiçar por ano mais de dois dias de todo o volume d’água das cataratas

-mudanças climáticas e pegada de ecológica/carbono: a criação de gado aumenta a produção de gases de efeito estufa, tanto devido À liberação de CO2 pela conversão da vegetação nativa, queima para estabelecimento de pastos quanto pela liberação de metano emitida pelo gado leiteiro. A amamentação exclusiva até os 6 meses economiza 95–153 kg CO2 e no Brasil essa amamentação exclusiva diminui 43% da pegada por evitar o consumo de substitutos do leite materno

Finalizando, incentivar o aleitamento materno só será possível com políticas públicas focando no apoio dos gestores para que as mães possam amamentar no trabalho ou ter horários flexíveis e incentivos à preservação do meio ambiente com o aumento da produtividade por área da pecuária leiteira, melhorando os pastos, por ex, restaurando as nascentes e matas ciliares, apoiando a agricultura familiar e evitando o desmatamento o que consequentemente promovendo a Justiça socioambiental, pela diminuição da desigualdade social na apropriação do ambiente e de seus recursos.

Referências consultadas:

Almeida. 1999. Amamentação um híbrido natureza-cultura _desperdício leite materno. Fiocruz. 120p

Oliveira et al. 2001 Índices técnicos e rentabilidade da pecuária leiteira. Scientia Agricola, v.58, n.4, p.687-692

Karlsson JO, Garnett T, Rollins NC, Röös E. 2019. The carbon footprint of breastmilk substitutes in comparison with breastfeeding. J. Clean Prod.

Radford. 1992. O Impacto ecológico da alimentação por mamadeira. Breastfeeding Review 2(5): 204-208.


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