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Foto do escritorLaboratório Ecologia da Intervenção UFMS

Como a degradação ambiental está relacionada com as doenças infecciosas emergentes?

Atualizado: 13 de abr. de 2020

Autor: Rony Marcos A. Benites e Letícia K. Reis

Graduando em Ciências Biológicas e doutoranda em Ecologia e Conservação - UFMS


 

(Baseado no artigo publicado por Corllet e colaboradores essa semana na Biological Conservation: “Impacts of the coronavirus pandemic on biodiversity conservation

- Impactos da pandemia de coronavírus na conservação da biodiversidade


Como se sabe, o mundo está enfrentando uma dura batalha contra o mais novo inimigo que têm causado diversos problemas ao redor do globo: a pandemia do novo coronavírus (COVID-19), cuja situação se agrava dia após dia, e está afetando todas as áreas da sociedade humana. Assim, como os cientistas devem se preocupar com o bem estar de suas famílias e amigos, eles devem se preocupar também em como a pandemia pode afetar o meio ambiente e sua biodiversidade mundial.


Há quem diga que a menor pressão causada pelos humanos têm causado impactos positivos nos ecossistemas naturais, com ar e água mais limpos ou recuperação da vida selvagem em alguns habitats. Mas será que podemos pensar, de uma forma mais geral, quais as consequências das doenças infecciosas emergentes nas atividades humanas e nas temáticas relacionadas à perda e conservação de biodiversidade? Continue lendo que vamos te mostrar que sim!


Adaptação da educação: universidades, institutos e centros de pesquisa fecharam suas portas. Tal ocorrido impacta fortemente no rumo da ciência aplicada, uma vez que alunos perdem as experiências práticas adquiridas em laboratórios ou campos. Além da pesquisa e o treinamento em si, exames de admissão, concessão de diplomas e certificados, divulgação de vagas de empregos para recém formados diminuíram ou foram suspensos por tempo indeterminado.


Cientistas no início da carreira como estudantes de graduação e pós-graduação precisam desta formação e empregos, já que são dependentes financeiramente e das experiências adquiridas ao longo de seu curso. É claro que trabalhos remotos como análise de dados, registro de arquivos e documentos no geral, andam juntos no progresso da ciência aplicada, porém, é apenas uma parte da pesquisa, essencial, assim como laboratórios e campos.


Assim, atrasos no treinamento e desenvolvimento de carreira, em combinação com os impactos econômicos e psicológicos da pandemia do COVID-19, podem levar os próximos alunos da área da biologia a seguir dois caminhos diferentes: desistir da ecologia e seguir carreiras profissionais mais estáveis e melhores financeiramente, ou despertar o desejo de iniciar a carreira na educação em estudos ambientais, conservação e pesquisa em ecologia. Tudo dependerá do tempo de paralisação das pesquisas à longo prazo.


“Pesquisa perdida significa oportunidades perdidas para identificar prioridades de conservação, monitorar a saúde de espécies e ecossistemas ameaçados e fornecer soluções práticas para a proteção e uso sustentável dos recursos dos quais depende o bem-estar humano.”


Ajustando a comunicação: Uma conseqüência imediata da pandemia é que as reuniões de conservação e ecologia de todos os tamanhos foram canceladas nos próximos meses, e provavelmente até mais. O nosso laboratório (LEI/UFMS) por exemplo, realizou (10/04/2020) a sua primeira reunião on-line via Skype! Positivamente tivemos a adesão à reunião de duas pesquisadoras que moram no interior e há tempos não conseguiam participar das nossas reuniões.


Ambientes virtuais como este podem evitar o afastamento de colegas de trabalho e área, assim como também permite conhecer novas pessoas de novas áreas do conhecimento, possibilitando uma eficaz troca de informações. Encontros on-line permitem também os colegas de trabalho discutirem sobre os próprios trabalhos, jamais deixando de lado a parceria acadêmica e o companheirismo em momentos difíceis como o que vivemos atualmente.A crise atual cria necessidades e oportunidades para que a ciência da conservação se comunique mais de maneira online.


“À medida que o mundo se recupera da pandemia, devemos lembrar aos nossos governos a importância de compromissos ambiciosos nessas duas reuniões.”


Biodiversidade agora e futura: Ainda é muito cedo para concluir cientificamente como a biodiversidade responde à pandemia, porém, a comunicação entre cientistas do mundo todo sugere que os trabalhos em conservação está a todo vapor. A dedicação pessoal de cientistas na proteção e patrulhamento de espécies ameaçadas em parques nacionais e áreas protegidas é louvável quanto à conservação prática da biodiversidade. O número reduzido de visitantes nesses locais diminuíram o estresse e atropelamentos de animais selvagens.


Espécies têm se aventurado em locais antes não registrados, como praias e parques. Imagens de satélite registram melhorias na qualidade do ar e da água em países afetados pela pandemia. Transporte marítimo reduzido tem causado menos impactos nos ambientes marinhos. Declínio global nas emissões de gases do efeito estufa. Essas podem ser melhorias de curto prazo, mas enfatizam dramaticamente a difusão e a gravidade dos impactos antropogênicos em todo o mundo. Observe o impacto da Pandemia no meio ambiente visto por imagens de satélite publicado por Corllet et al. (2020) na Figura 1.


Figura 1. Concentrações de dióxido de nitrogênio no leste da China de 1 a 20 de janeiro de 2020 (antes da quarentena do COVID-19) e de 10 a 25 de fevereiro (durante a quarentena). Dados recolhidos pelo Tropospheric Monitoring Instrument (TROPOMI) no satélite Sentinel-5 da ESA. Imagens do NASA Earth Observatory de Joshua Stevens, usando dados modificados do Copernicus Sentinel 5P processados ​​pela Agência Espacial Européia. Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7139249/


Provavelmente os impactos positivos mencionados são temporários, mas o financiamento e outros apoios à conservação terão que competir com uma ampla gama de novas prioridades de recursos financeiros que provavelmente globalmente, pelo menos no futuro próximo. As ONGs de conservação também podem se esforçar para angariar fundos de fontes privadas. Por fim, a conservação depende de botas no chão e, se o financiamento for limitado, são essas atividades que precisarão ser priorizadas.


Ainda é muito cedo para concluir os reais impactos do novo coronavírus na biodiversidade e na nossa capacidade de protegê-la. Ao que parece, a biodiversidade está se beneficiando da redução das atividades humanas e as áreas protegidas parecem seguras. Porém, vale salientar que em alguns lugares onde a fiscalização enfraqueceu, a ameaça aumentou. Os efeitos duradouros da pandemia na carreira acadêmica de novos cientistas da conservação dependerão do período da pandemia e da preocupação das instituições.


Assim como devemos nos preocupar na saúde humana e na contenção da pandemia, precisamos estar pensando no futuro retorno das práticas de educação e conservação, sempre lembrando que bem estar humano e ecossistemas saudáveis caminham juntos. Lembrando que a destruição dos ecossistemas leva ao maior contato do homem com novas doenças através de vírus e bactérias anteriormente isoladas. Como podemos notar na Figura 2. do artigo de Jones et al. (2008) há uma forte evidencia de riscos no surgimento de novas doenças infeciosas emergentes (EID in english) na China e também a Mata Atlântica (Brasil) como áreas de grande risco de patógenos provenientes da vida silvestre (painel a).


Figura 2. Distribuição global do risco relativo de um evento de EID. ''Os mapas são derivados de eventos de EID causados ​​por a , patógenos zoonóticos de animais selvagens, b , patógenos zoonóticos de animais não-selvagens, c , patógenos resistentes a medicamentos ed , patógenos transmitidos por vetores. O risco relativo é calculado a partir de coeficientes de regressão e valores variáveis ​​na Tabela 1 (omitindo o esforço de relatório de medição variável), categorizados por desvios padrão da média e mapeados em uma escala linear de verde (valores mais baixos) para vermelho (valores mais altos). Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5960580/


Animais silvestres são hospedeiros naturais de muitos desses microrganismos infecciosos e a destruição ambiental cria possibilidades diversas para novas pandemias emergirem, uma vez que a maior parte das doenças que surgiram nas últimas décadas, originam-se dos animais silvestres como mostra a Figura 3. de Jones et al. (2008).


Figura 3. Número de eventos de EID por década.Os eventos de EID (definidos como a origem temporal de uma EID, representada pelo caso original ou por um conjunto de casos que representa uma doença emergente na população humana - consulte Métodos) são plotados em relação a a , tipo de patógeno, b , tipo de transmissão, c , resistência ao medicamento ed , modo de transmissão (consulte as teclas para detalhes). Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5960580/


Isso torna evidente como a origem do coronavírus vindo de morcegos (Zhou 2020) impacta friamente na conservação do ambiente. Finalmente, com esta pandemia fica clara a oportunidade das pessoas lembrarem-se da conexão entre a saúde das pessoas e do meio ambiente.



Referências:
Corlett, R. T., Primack, R. B., Devictor, V., Maas, B., Goswami, V. R., Bates, A. E., ... & Cumming, G. S. (2020). Impacts of the coronavirus pandemic on biodiversity conservation. https://doi.org/10.1016/j.biocon.2020.108571

Jones, K. E., Patel, N. G., Levy, M. A., Storeygard, A., Balk, D., Gittleman, J. L., & Daszak, P. (2008). Global trends in emerging infectious diseases. Nature, 451(7181), 990-993.  https://www.nature.com/articles/nature06536.pdf

Zhou, P., Yang, X. L., Wang, X. G., Hu, B., Zhang, L., Zhang, W., ... & Chen, H. D. (2020). A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin. Nature, 579(7798), 270-273. https://doi.org/10.1038/s41586-020-2012-7




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